Estudos piloto e de viabilidade
Estudos piloto e de viabilidade são estudos realizados em menor escala com o objetivo de identificar se possíveis pontos chaves de um estudo futuro serão viáveis ou não.
Logo, estudos piloto e de viabilidade respondem uma pergunta muito importante: “O estudo principal deve ser conduzido da maneira planejada previamente ou algo deve ser modificado?”.
Por exemplo: O pesquisador deseja conduzir um estudo sobre exercícios físicos para pacientes com dor lombar crônica não especifica. Contudo, o pesquisador não tem certeza se esses pacientes irão aderir (ou seja, continuar comparecendo até o final do estudo) ao programa de exercícios proposto. Uma boa ideia seria o pesquisador conduzir um estudo piloto para mensurar a aderência deste tipo de paciente ao programa de exercícios proposto. Caso os pacientes tenham uma boa aderência o estudo maior poderia ser conduzido. Caso a aderência seja baixa, o estudo maior poderia ser modificado ou, em último caso, cancelado.
Estudos piloto e de viabilidade não possuem poder estatístico para reportar a efetividade/eficácia de alguma intervenção. Eles servem apenas para reportar desfechos ligados a viabilidade.
Infelizmente, muitos estudos piloto e de viabilidade publicados na área da saúde não deixam claro qual o componente de viabilidade está sendo testado e, também, não reportam que aquele estudo não deveria ser utilizado para uma tomada de decisão clínica.
Muitos profissionais da área de saúde tendem a utilizar os resumos dos estudos como uma forma de triagem para identificar possíveis e falhas metodológicas e a possível aplicabilidade daquele estudo na sua prática clínica. Estudos reportam que, aproximadamente, 63% residentes da área médica tendem a ler primeiramente ou apenas os resumos.
Sendo assim, integrantes do BBPRG conduziram, em parceria com a Universidade de Sidney (Austrália) e a Universidade McMaster (Canadá), uma revisão metodológica visando avaliar a qualidade de descrição dos resumos dos estudos piloto e de viabilidade de intervenção em fisioterapia e se os objetivos descritos nos resumos destes estudos tinham ligação direta com viabilidade.
Nosso projeto de pesquisa foi publicado no periódico BMJ Open em maio de 2019 e descreve de maneira detalhada a metodologia aplicada para a condução do estudo principal. Esse projeto pode ser encontrado aqui: https://bmjopen.bmj.com/content/9/5/e020580
Durante a condução da nossa revisão metodológica (em processo de redação final) pudemos observar que 1325 estudos indexados a base de dados PEDro (Physiotherapy Evidence Database) se denominavam como estudos piloto e de viabilidade. Dos 1325 estudos incluídos na nossa revisão apenas 42% reportavam durante a descrição do resumo objetivos ligados diretamente com viabilidade. Ou seja, eram apenas estudos pequenos, transvestidos de estudos de viabilidade. Obviamente, um ato que confunde os profissionais de saúde. Fiquem atentos a estudos de viabilidade ou pilotos. Talvez eles não sirvam para você!
Referências
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